Qual o segredo dos corredores quenianos para o sucesso mundial nas corridas de longa distância? Esta é uma pergunta que sempre nos fazemos. E todas as respostas, embora tentando justificar a natureza desta qualidade desses atletas, muitas vezes não são muito esclarecedoras. Apresento aqui um estudo de Henri B. Larsen, publicado na revista Comparative Biochemistry and Physiology Part A, em março de 2003, em que o autor apresenta alguns aspectos interessantes, como seguem.
Durante as duas últimas décadas, mudou dramaticamente o cenário masculino internacional de fundo e meio fundo. Apenas 17 anos atrás, todas as distâncias de 800 m a maratona eram dominadas por europeus. Nos dias de hoje, a proporção de atletas entre os 20 melhores do mundo está assim: 11,7% de europeus; 85% de africanos, dos quais 55,8% são quenianos. Então, o que faz os corredores quenianos correrem tão bem? Os fatores a considerar são: dotação genética, formação, treinamento e altitude (2000 m), bem como, especificamente para o excelente desempenho em corridas de fundo, a combinação entre a alta capacidade
de liberação de energia aeróbia, alta utilização do consumo máximo de oxigênio durante a competição e uma boa
economia de corrida.
Com o objetivo de estabelecer uma relação entre todos estes fatores, o autor, através de uma extensa revisão da
literatura, identificou todos os parâmetros necessários para sugerir o porquê desta superioridade dos atletas quenianos. O consumo máximo de oxigênio, sua alta taxa de utilização durante a competição e a economia de corrida são cruciais fatores para o sucesso. Investigações destes fatores-chaves indicam que a superioridade do Quênia nas corridas de longa distância se deve a uma única combinação destes fatores.
Especialmente a economia de corrida dos quenianos tem sido mostrada como uma habilidade, onde a forma do corpo aparece sendo um ponto crítico.
Entretanto, por este ângulo, muitos etíopes, negros sul-africanos e indianos parecem ter quase a mesma forma do corpo dos quenianos. Podemos até especular por que corredores destes países não apresentam o mesmo nível dos corredores quenianos nas corridas de longa distância. De fato,
os corredores de elite sul-africanos têm mostrado atualmente uma economia de corrida similar a dos quenianos. O que lhes falta é provavelmente um alto consumo máximo de oxigênio ou a habilidade em usar um porcentual suficientemente alto deste consumo quando estão correndo.
Após perceberem o talento para a corrida dos quenianos, agentes ocidentais e treinadores têm trazido recursos financeiros e reconhecimento para a corrida de fundo no Quênia, e, por meio disso, de uma maneira ocidental, contribuído para o desenvolvimento do potencial
dos quenianos e para o sucesso dos quenianos na corrida de longa distância.
Se isto poderia acontecer em alguma outra parte do mundo, é uma pergunta que ainda nos intriga. Será que existem outros lugares no mundo, onde as pessoas possuem dotação genética e propriedades fisiológicas para o desempenho atlético similar a dos quenianos e, paralelo a isso, um ambiente de apoio sócio-econômico, político e cultural para sustentar um similar desenvolvimento?
Sim, provavelmente, mas para outra modalidade de desempenho que a corrida, onde os quenianos podem ser únicos.
Concluindo, podemos observar que este estudo, nos mostra que os atletas quenianos apresentam um fator diferencial na avaliação com os demais atletas do mundo. Embora apresentem o mesmo potencial, ou seja, podem atingir altos níveis de consumo máximo de oxigênio como os outros atletas pelo mundo, conseguem sustentar esta alta intensidade por um tempo mais prolongado.
Fonte: Revista Afirmativa Plural