Desenvolvimento e aprimoramento da velocidade do atleta fundista
Um dos maiores desafios nas provas de longas distâncias no Atletismo é a manutenção de um elevado ritmo competitivo do início ao final da competição.
A habilidade técnica do atleta é um fator básico para o aprimoramento da velocidade média de corrida, pois a eficiência mecânica representa economia de esforço.
Assim quanto menor é o gasto energético oriundo de contrações musculares indesejadas, menor o esforço físico realizado pelo atleta.
Como exemplo disto, o atleta que mantém os braços enrijecidos durante o percurso estará provocando uma fadiga desnecessárias em músculos que deveriam estar relaxados. A contração desses músculos incorre em utilização de energia e produção de calor corporal, exigindo dos mecanismos de regulação térmica maior desgaste no processo de refrigeração do organismo.
O aprendizado da técnica de corrida é fundamental, entretanto, devemos respeitar as características individuais de cada atleta. O importante é que o mesmo aprenda os elementos básicos dos gestos mecânicos utilizados na corrida, adaptando-os ao seu estilo particular.
Essas considerações são importantes pois, ao tratarmos do aprimoramento da velocidade de atletas fundistas, os exercícios físicos propostos para tal deverão ser executados em um ritmo elevado observando-se a biomecânica do atleta durante a competição. Isto significa que o atleta, ao utilizar-se de um método de treinamento que desenvolva ou aprimore a velocidade, deverá executá-lo mantendo-se os parâmetros básicos do gesto motor realizado pelo mesmo durante a competição. O atleta não deverá usar uma técnica de corrida na competição e outra no treinamento.
A razão para tanto, reside nos pressupostos fisiológicos que indicam que, para o aprimoramento da velocidade de contração muscular, a coordenação entre as fibras musculares do mesmo músculo e entre os músculos e grupos musculares envolvidos no gesto mecânico é imprescindível.
Assim, quando queremos desenvolver ou aprimorar a velocidade, devemos utilizar de meios que representem o gesto motor específico da modalidade praticada, e métodos que intensifiquem o potencial motor e os processos metabólicos do organismo. Observamos, desta forma, o princípio científico da especificidade.
Não devemos esquecer que, para o desenvolvimento ou aprimoramento da velocidade de corrida nas provas de fundo, não apenas o aumento do consumo de oxigênio e a elevação do limiar anaeróbio devem ser perseguidas durante o treinamento. O nível de força muscular é fator decisivo para a potencialização da velocidade. Atletas com baixos níveis de força muscular específica (resistência de força, no caso dos atletas fundistas), podem ser vítimas de lesões nas estruturas do aparelho locomotor.
Ao falarmos de velocidade para atletas de fundo, portanto, não podemos deixar de lado a força e tampouco a resistência. Se o que desejamos é a elevação da velocidade média de corrida do atleta fundista, temos que intensificar os processos metabólicos oxidativos pois, será através deles que a energia será produzida para novos níveis de contração muscular, sem que isto represente acúmulo de lactato.
Assim, o atleta estará se deslocando em um ritmo mais veloz, sem a necessidade de recorrer aos mecanismos metabólicos anaeróbios que, ao mesmo tempo que fornecem energia rapidamente (aumentando a velocidade de corrida), acumulam grande quantidade de lactato, prejudicando o desempenho do mesmo.
Os métodos de treinamento físico empregados no processo pedagógico de desenvolvimento e aprimoramento da velocidade de corrida dos atletas fundistas durante os vários períodos e etapas dos ciclos de treinamento são muitos.
Para os atletas iniciantes e de nível intermediário, apenas o desenvolvimento e aprimoramento da resistência aeróbia já se refletirá positivamente na elevação do ritmo de deslocamento (velocidade de corrida).
Assim, o emprego dos métodos contínuos em suas variadas formas de aplicação, e do método intervalado em sua variável extensiva, é recomendado.
Os atletas de nível avançado, cuja performance já os eleva à condição de elite nacional, necessitam aprimorar a potência aeróbia, representada pela máxima utilização do oxigênio pelos músculos em atividade (elevação do limiar anaeróbio).
O método intervalado em sua variável intensiva é recomendado neste caso. Para a fixação do aprendizado, o trabalho que envolva o emprego de velocidades médias competitivas (ritmo) é indicado.
No caso de atletas de elite internacional, os meios de preparação de força especial devem ser utilizados, pois os mesmos já se encontram em um nível de preparação física extremamente alto, necessitando de estímulos mais intensos que aqueles habitualmente oferecidos pelos métodos tradicionais. Nesse método de treinamento, o trabalho muscular realizado às custas das vias energéticas oxidativas é intensificado ao máximo. A especificidade do gesto motor deve ser fielmente observada.
Não devemos esquecer que, em todos os casos, o treinamento da força muscular se faz necessário.
Desta forma, circuitos, calistenia, treinos com pesos livres ou máquinas de força devem fazer parte da rotina básica de treinamento de todo atleta fundista, de qualquer nível.
Nas sugestões metodológicas aqui exemplificadas, seguimos uma orientação puramente didática, apenas como forma de melhor entender a complexidade do assunto.
Cabe aos treinadores a escolha da melhor opção para seus pupilos, desde que o mesmos observem com rigor os princípios biológicos que fundamentam as bases metodológicas do treinamento desportivo, explorando ao máximo a potencialidade de cada comandado.
Marcelo Augusti
Site: www.totalsport.com.br
Bibliografia recomendada
SCHMOLINSKY, G. Atletismo. 3ª edição. Lisboa: Editorial Estampa, 1992.
VERKOCHANSKY.I. Preparação de Força Especial: modalidades cíclicas do desporto.
Rio de Janeiro: Palestra Sport, 1995.
WEINECK, J. Biologia do Esporte. São Paulo: Manole, 1991.
ZATSIORKY, V. Ciência e Prática do Treinamento de Força. São Paulo: Phorte Editora,1999.
ZAKHAROV, A . Ciência do Treinamento Desportivo. Rio de Janeiro: Palestra Sport, 1992.
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